quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A FÁBULA DO CUIDADO, PELO FILÓSOFO HEIDEGGER

"Certa vez, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedaço de barro. Logo teve uma idéia inspirada: tomou um pouco do barro e começou a lhe dar forma. Enquanto contemplava o que criara, apareceu Júpiter. Cuidado pediu-lhe que desse espírito à forma de argila, o que Júpiter fez de bom grado. Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu e exigiu que fosse dado o seu nome. Enquanto Júpiter e Cuidado discutiam sobre o nome, surgiu também a Terra. Ela também quis dar seu nome à criatura, pois havia fornecido um pedaço de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada. De comum acordo pediram a Saturno que fosse o árbitro da discussão. Saturno pronunciou a seguinte decisão que pareceu justa: “Você, Júpiter, deu-lhe o espírito; então, receberá de volta o espírito no momento da morte dessa criatura. Você, Terra, deu-lhe o corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer. Mas como você, Cuidado, foi quem primeiro formou a criatura, ela ficar aos seus cuidados enquanto ela viver. E uma vez que entre vocês há muita discussão acerca do nome dessa criatura, decido eu: ela será chamada Homem (‘Homo’), isto é, feita de húmus, que significa terra fértil.”

Com essa fábula mito, Heidegger interpreta o cuidado como um modo de ser do Homem. Ele mostra o cuidado como condição humana, condição para compreendermos o ser humano. Podemos considerar o cuidado como atitude para inspirar um novo acordo entre as pessoas e uma nova relação com a natureza?

2 comentários:

PALAVRAS disse...

Com certeza o Cuidado é um caminho que visa a essência, é a busca em descobrir quem realmente somos, e com ele, transcender os limites que a própria sociedade impõe à nossa própria descoberta.

Rennan Paranhos disse...

Mas, a partir do pensamento de Heidegger, discorrer do cuidado como uma essência não seria um pouco contraditório? Heidegger aponta que o ser-aí é poder-ser, desse modo, não poderíamos pensar no humano com uma essência, isto seria seguir um pensamento estruturalista. A angústia faz parte da ontologia da existência humana, pode ser discorrida como condição para estarmos no mundo, mas ela precisa ser compreendida como um fenômeno que possibilita ao ser manter-se no caminho de sua existência. Essa fábula, na minha ótica, conota o modo como Heidegger compreende angústia enquanto ocupação e preocupação(solicitude).